quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A Cigarra e a formiguinha -Coleção disquinho

Aqui você vai poder ler a a fábula original de La Fontaine “A cigarra e a formiga” e também a versão escrita por Monteiro Lobato e José Paulo Paes. Monteiro Lobato e José Paulo Paes escreveram sua versão no século XX, e La Fontaine no século XVII.




A CIGARRA E A FORMIGA (La Fontaine)



A cigarra, sem pensar

em guardar,

a cantar passou o verão.

Eis que chega o inverno, e então,

sem provisão na despensa,

como saída, ela pensa

em recorrer a uma amiga:

sua vizinha, a formiga,

pedindo a ela, emprestado,

algum grão, qualquer bocado,

até o bom tempo voltar.

"Antes de agosto chegar,

pode estar certa a senhora:

pago com juros, sem mora."

Obsequiosa, certamente,

a formiga não seria.

"Que fizeste até outro dia?"

perguntou à imprevidente.

"Eu cantava, sim, Senhora,

noite e dia, sem tristeza."

"Tu cantavas? Que beleza!

Muito bem: pois dança agora..."

Do livro Fábulas de La Fontaine, 1992.



SEM BARRA (José Paulo Paes)



Enquanto a formiga

Carrega comida

Para o formigueiro,

A cigarra canta,

Canta o dia inteiro.A formiga é só trabalho.

A cigarra é só cantiga.Mas sem a cantiga

da cigarra

que distrai da fadiga,

seria uma barra

o trabalho da formiga

(Paes, s.d.).



A CIGARRA E A FORMIGA (A FORMIGA BOA) (Monteiro Lobato)



Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé do formigueiro. Só parava quando cansadinha; e seu divertimento era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.

Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas, Os animais todos, arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas.

A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.

Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu – tique, tique, tique...

Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina.

- Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.

- Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu...

A formiga olhou-a de alto a baixo.

- E que fez durante o bom tempo que não construí a sua casa?

A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois dum acesso de tosse.

V - Eu cantava, bem sabe...

- Ah!... exclamou a formiga recordando-se. Era você então que cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?

- Isso mesmo, era eu...

Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora! Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.

A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.

Do livro Fábulas, Monteiro Lobato, 1994.



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